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INSTITUIÇÕES ORGANIZADAS POR TRABALHADORES:

            "Flor da Mocidade era antes um grupo dramático que tinha por objetivo realizar espetáculos teatrais e com isso recolher recursos para ajudar as famílias, por exemplo: quando uma mulher dava a luz e ficava 40 dias de dieta as outras famílias socorriam, fazendo os serviços da casa, mandando as crianças para a escola, cozinhando para o chefe da família e enviando comida para a fábrica e ainda os remédios eram supridos por esse caixa das apresentações teatrais. O Sr.Vitor Baldin era quem traduzia e adaptava os textos e posteriormente o grupo dramático passou a ser uma sociedade de mútuo socorro
inspirada em entidades italianas."
Itabajara Fonseca

         "Os operários contavam com a estrutura da Vila Carioba que possuía armazéns, bazares, escritórios, confeitarias, hotel, restaurante, alfaiataria. Havia também a cooperativa autogestada por trabalhadores e também uma escola especialmente construída para os filhos. Residiam em casas construídas pelos proprietários da fábrica onde contavam com água encanada e energia elétrica. Os moradores da vila eram assistidos pela Sociedade Mútuo Socorro, pequeno hospital que atendia aos problemas de saúde local, que era administrado pela comunidade operária."
Itabajara Fonseca

EDUCAÇÃO:
           
            "O diretor da escola Comendador Muller, Sr. Constantino Augusto Pinke incentivava bastante o teatro entre os alunos".
Lourdes Colla

            "Quem não tiver saudade de sua escola, de sua família e de sua professora, pode ficar certo que não teve infância".
Hércule Giordano

            "O Clube Recreativo e Esportivo Carioba tinha uma completa biblioteca com os mais variados livros de autores mundialmente conhecidos. O clube também era assinante dos jornais: O Estado de São Paulo, Diário de São Paulo, a Folha da Manhã, bem como as revistas da época: Eu Sei Tudo, Cigarra, Careta, Seleções e outras".
Hércule Giordano

            "Desde os primeiros tempos os proprietários de Carioba sempre deram ênfase à educação.Ter sido professora da escola de Carioba foi para mim uma experiência inesquecível".
Maria Ap. Chiaravalotti

"Meu avô Juvêncio de Almeida veio para Carioba na época em que a fábrica pertencia aos irmãos Wilmot e foi alfabetizado por essa família".
Maria do Carmo Chiaravalotti

 LAZER:

            "Eu me lembro dos companheiros que remavam comigo no "Yole a 4" (barco de regatas remado por quatro pessoas) João Palheiros, Irineu Travaglia,Walter Garbo. Os jogos de bola ao cesto, os bailes de carnaval, as noites de bate papo em frente ao hotel, os jogos de pingue-pongue. Me lembro dos filmes que assisti no cinema: "Bem Hur", "Lanceiros da Índia" e do dia 1 de janeiro em que a banda de Carioba vinha até a casa prestar homenagem a meu pai Hermann. Enfim, sempre houve muita integração entre todos os moradores de Carioba".
Horst Muller Carioba

            "O carnaval era muito animado. Os homens gostavam de se fantasiar de mulher, o desfile na rua era animado por duplas com cabeça de cavalo ou boi. Na década de 30 formaram-se vários blocos e os que tinham carro vinham fazer o corso em Americana. O Parque São Francisco era uma sociedade que cada pessoa pagava cinco mil réis por mês. Nesse parque havia coreto para baile, um coreto menor para músicas e uma piscina de água natural corrente.Todo fim de mês, churrasco para todos os sócios".
Lourdes Colla

            "...hoje está tudo derrubado, mas tinha cinema, bola ao cesto, coreto, banda. Chamava Clube Recreativo e Esportivo Carioba e era administrado pelos funcionários, não havia interferência da direção da fábrica. Os próprios funcionários fundaram também o Clube de Regatas Carioba, competiam em São Paulo, Piracicaba, Ribeirão Preto e Campinas. Eu fiz parte de uma guarnição."
Joaquim Muller Carioba



A VENDA DE CARIOBA AO GRUPO J.J.ABDALLA EM 1944

            O afastamento da família Muller da direção da Fábrica de Tecidos Carioba, as restrições impostas aos descendentes de alemães durante a Segunda Guerra Mundial culminaram com a venda da indústria em 1944.
            Os novos dirigentes tentaram ainda expandir a indústria, construíram mais casas, a igreja de São João Batista, mas enfrentaram muitas dificuldades com a mão-de-obra, pois muitas das antigas famílias transferiram-se para Americana.
            Enfrentaram a concorrência de novas indústrias e a mudança de hábitos dos consumidores mais propensos ao consumo de outros tecidos em substituição ao algodão.
Tentaram os novos proprietários estabelecer relações plantadas pelo capitalismo em substituição a experiência social democrata alemã.
            A vila foi sendo fechada perdendo sua ligação com a cidade de Americana - deixou de ser seu principal centro de lazer e produção. Inúmeras questões trabalhistas motivaram intermináveis pendências judiciais.
            A fábrica é fechada em 1977 e seus moradores permanecem nas casas até o início da década de 1980. Neste período a comunidade se une formando o Comitê Pró Carioba com vistas a preservar este patrimônio histórico que era a Vila Industrial, as casas patronais, a escola e outros prédios.
           Um projeto de tombamento pelo Condephaat é apresentado à Assembléia Legislativa de São Paulo, aprovado, mas vetado pelo então governador do Estado de São Paulo, Sr. Paulo Maluf.
           Os proprietários de Carioba estabelecem um acordo com a Prefeitura de Americana 
se comprometendo a preservar os prédios de Carioba, em troca da cessão por aquela de outras áreas para loteamento. Entretanto o processo de demolição se acelera com a doação de material para os moradores que desejassem construir em outros bairros da cidade. Em 1983 é acertado o acordo entre a prefeitura e o grupo Abdalla passando para a prefeitura a propriedade dos prédios que ainda permaneciam - as residências do comendador e de seu filho Hermann, os prédios da escola, Sociedade Mútuo Socorro e das fábricas.
             A memória de Carioba, de sua organização do trabalho, de sua vida comunitária, de suas atividades recreativas e culturais orienta ainda hoje expressiva parcela da população de Americana, sempre unida em atividades em prol da comunidade.


 FIDAM - FEIRA INDUSTRIAL DE AMERICANA

            No ano de 1961, nos salões da Associação Comercial e Industrial de Americana, um grupo de industriais americanenses se reuniu para encontrar a solução para um velho problema: a pouca divulgação de Americana como centro produtor de tecidos, que eram comercializados em sua maior parte na capital. Foi a partir dessa reunião que surgiu a idéia de manter na cidade a primeira Feira Industrial de Americana - FIDAM - realizada em novembro de 1961, nos porões da Igreja Matriz de Santo Antônio.
            Em 1967 iniciou-se a construção do primeiro pavilhão para a realização da 7ª FIDAM. No terreno de 26.580 metros quadrados cedido pela prefeitura e no ano seguinte foi construído o segundo pavilhão, para abrigar expositores dos segmentos de máquinas e implementos têxteis.A partir desse período a cidade ganha projeção enquanto produtora de tecidos e passa a ser conhecida como Princesa Tecelã.
            Durante a década de 90 a Feira sobre o nome EXPOTEX visava promover o reconhecimento nacional do mais importante pólo têxtil da América Latina.
            Atualmente são realizadas exposições de tecidos e confecções -DIRECTO- sendo o recinto também locado para outros eventos.

 O TECIDO DE RAYON E A DIVERSIFICAÇÃO INDUSTRIAL

            Após a revolução de 1932, Americana prossegue na luta para o seu crescimento e no ano de 1941, por iniciativa do Sr. Álvaro Cecchino foi criada a Cooperativa Industrial de Tecidos de Rayon de Americana -CITRA- primeira experiência cooperativista no campo têxtil.Transformou-se em Companhia em 1944.Ainda neste ano surge outra grande indústria, a Distribuidora de Tecidos de Rayon de Americana -DISTRAL- criada por Álvaro  Cecchino, Antônio Zanaga,Arioldo Cecchino, Roque Faraone e Onofre Boer.
            Americana se desenvolve e as décadas subsequentes ao pós guerra foram marcadas pela proliferação de tecelagens de tecidos de Rayon e o sistema de trabalho a Fação. Essas atividades embora enfrentando crises sucessivas, se estendeu a todas as cidades da região, Nova Odessa, Sumaré e Santa Bárbara D'Oeste, garantindo a ascensão e mobilidade social e principalmente atraindo migrantes vindos do meio rural. As condições de vida aqui encontradas fizeram dessas pessoas profissionais da indústria têxtil e nesse contexto podemos destacar, principalmente, o trabalho da mulher.
           Os anos 40 também foi marcado pelo surgimento e expansão de empresas do ramo de transportes.
       Americana obteve na década de 70 sua diversificação industrial, através da instalação de grandes empresas dos ramos de borracha, papel, fios e condutores.
          Até os anos 80 Americana se coloca como o centro do maior pólo têxtil do país e nossa geração deve ter clareza de que isso se deve ao esforço dos imigrantes italianos e americanos e a visão empresarial dos alemães.
            Na primeira metade dos anos 90 o setor têxtil convive com intensa crise, provocada pelos altos índices de impostos e a entrada e concorrência de tecidos importados, principalmente tecidos coreanos.Ao mesmo tempo, devido a persistência e ao empenho de industriais que investiram na produção e implementaram novas técnicas, recuperando o lugar de destaque da indústria têxtil no cenário nacional e garantindo altos índices de produtividade.